Até esta segunda-feira (14), 12 dos 13 sindicatos da Federação Única dos Petroleiros (FUP), já haviam aprovado a greve contra a privatização da Petrobras – o que equivale a 98% da categoria. Apenas o Rio Grande do Norte ainda terá assembleias ao longo da semana. A data de início da greve será definida pela FUP.
Nas assembleias, a categoria também está aprovando um manifesto em defesa da soberania, pela democracia e contra a prisão política de Lula, o presidente que mais investiu na companhia, segundo os petroleiros.
Desde que assumiu o comando da Petrobras, indicado pelo governo golpista e ilegítimo de Michel Temer, Pedro Parente já entregou para grupos estrangeiros mais de 30 ativos estratégicos, como os campos do pré-sal, sondas de produção, redes de gasodutos, distribuidoras de gás, termoelétricas e usinas de biocombustíveis.
Agora, os golpistas vão atacar as refinarias. Cerca de 3.700 trabalhadores serão afetados de imediato com a venda de 60% de quatro unidades: Repar (PR), Abreu e Lima (PE), RLAM (BA) e Refap (RS). O pacote fechado inclui ainda 24 dutos e 12 terminais.
A ampla adesão à greve e ao manifesto em defesa do ex-presidente Lula mostram que a categoria está disposta a lutar contra a privatização, o desmonte, o risco de desemprego e reconhece que a Petrobras viveu uma era de grandes avanços nos governos do PT.
“Lá no começo dos anos 2000, Lula chegou com um projeto nacionalista para o Brasil, o que incluía a valorização da Petrobras. E, nessa época, já vimos grandes concursos, o foco no conteúdo nacional, grandes obras, tudo o que gerou empregos diretos e indiretos, distribuição de renda, fez girar a economia e trouxe desenvolvimento para o país”, diz o diretor de Saúde, Meio-Ambiente e Segurança (SMS) da FUP, Alexandro Guilherme Jorge.
Para os trabalhadores da Petrobras, a prisão de Lula representa um dos capítulos do golpe que, segundo o dirigente da FUP, tem uma relação direta com a entrega da maior riqueza do Brasil, o petróleo, para o capital estrangeiro.
A privatização não entrega apenas as riquezas naturais para o capital internacional, entrega também os empregos de milhares de trabalhadores e trabalhadoras da maior estatal brasileira e uma das maiores do mundo para profissionais de outros países. E não há uma expectativa, segundo o sindicalista, do que será feito das refinarias, caso sejam vendidas.
“Não se sabe se vão produzir aqui ou só trazer o produto de fora. E se for assim, não gera riqueza”, afirma Guilherme Jorge.
Segundo ele, a sociedade tem que entender o efeito renda, ou seja, “quando você tira o dinheiro daqui e manda para o exterior, o mercadinho, a lanchonete, a farmácia, todo o comércio sente o efeito. Emprego e renda é o que gira a economia e o desenvolvimento de um país”.
Tempos sombrios
Alexandro Guilherme vê um Brasil-colônia no futuro, com o desmonte da Petrobras. “Seremos exportadores de petróleo cru e importadores de derivados. Os empregos vão ser gerados lá fora e não aqui dentro”.
Ele cita como exemplo a construção de estaleiros e refinarias na China, em Singapura e na Coreia. O futuro, ele prevê, será “de profissionais capacitados, saindo da área de tecnologia para vender cachorro-quente ou trabalhar como Uber, para poder sobreviver”.
Durante as assembleias, mesmo os “que não amam nem odeiam Lula”, concordaram que há algo fora da normalidade na prisão do ex-presidente, diz o diretor da FUP ao explicar à grande adesão ao manifesto que também foi levado para votação.
“Para a maioria está claro que Lula sofreu um processo distinto dos demais, pela rapidez com que correu o processo e o julgamento e por ele estar preso quando todos estão soltos”.
Era só tirar o PT: “coitado de quem caiu nesse papo-mole”
Desde que o golpe, que tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff eleita legitimamente por mais de 54 milhões e meio de trabalhadores, foi dado contra a classe trabalhadora e o país, todos os indicadores econômicos mostram o agravamento da recessão no Brasil. O reflexo principal está no mercado de trabalho.
O Brasil tem hoje 13,7 milhões de desempregados, segundo dados do IBGE. E, de acordo com o dirigente, é necessário dialogar com a sociedade, pois tem coisas que caminham juntas. Uma delas, ele explica, é que a privatização da Petrobras pode gerar um efeito cascata em toda a sociedade, com demissões em toda a cadeia produtiva, além de mais aumento no preço da gasolina para o consumidor. |